sábado, 7 de fevereiro de 2015

Alguns segredos


eu tinha em minhas mãos o segredo do rio
plúvio
agia com a mais bela insensatez da palavra desregrada
filtrava tua areia em teia de seda
alimentava silêncios
e descomedia paixões

o segregar da luz compunha-me horizontes
de tintas e conteúdos inomináveis
únicos
que entendiam minhas polpas digitais
mas, mágicos, perfilavam-se inutilmente
ante os olhos esbugalhados
de luas
e sóis

não mais te cantei por força
desta mudez inexorável que me aflora
óssea
medular
rude
[e tacitamente tátil]

embrenhei-me nos mesmos versos pífios
que me refletiam
além do mar
além de mim
além do além
aqui
aqui


e a sós
me concebi
um poema
um poema meu
e de mais ninguém

(Celso Mendes)

3 comentários:

cirandeira disse...

mas o rio ainda contém seus aquíferos intactos, suas águas mais profundas poderão aflorar a qualquer momento, ou quando forem
solicitadas...
segredos sempre hão de existir, fazem parte do mistério da vida.

grande abraço, poeta!

Carla Diacov disse...

e de mais ninguém!
:)

Anônimo disse...

Celso, você é simplesmente genial!

Espero que aprove o site. Se não aprovar, só mande uma mensagem em "contato" e nós retiramos seus textos na hora.

dezpoesias(ponto)jimdo(ponto)com